Carlos Damião

28 de fevereiro de 2007

PLANETA DOS OLHOS

Em 1985, os escritores Flávio José Cardozo e Silveira de Souza criaram a Edições Sanfona, uma iniciativa que rendeu dezenas de publicações de obras de autores catarinenses. Tive o privilégio de integrar a coleção de sanfonas, com uma série de sete poemas, sob o título de Planeta dos Olhos.
Eis os poemas:

1
BONS OLHOS

Bons olhos
te vejam
quando os teus
(holofotes)
me iluminam
e eu te levo
para o leito


2
ÍRIS

Bons olhos
nos vejam
quando ardemos
na fogueira
de algodão
e cambraia


3
DIGITAIS


Não quero te desenhar
ou escrever:
apenas descrever
seis sentidos de desvendamento

(desde os olhos e desde
os seios
até os quadris e os
pés)


4
LÍRICA



Não:
te ver
esculpida
em natureza
viva
sempre chama
(apenas lírica
ou mais)


5
CLIC


Já te fotografei
em instâncias
e instantes
no tempo vário
às segundas-terças
quando espremes
o suco
licor que se bebe
no extremo das horas
quando fugimos


6
PLANETA

E se não bastasse a
alegoria
de uma janela
sempre moldura

ainda temos
o planeta dos nossos
olhos
e o céu (da boca?)
que não se abre
só para satélites/estrelas


7
POUSO


E se não bastassem os
mares
e essas agonias

ainda o pouso
redondo
sobre as pernas
- quando se inventam
domingos
escadas (rolantes)
mãos e línguas.

20 de fevereiro de 2007

O MAIS PUBLICADO

Este é um dos poemas de minha autoria mais divulgados - saiu em dezenas de publicações, no Brasil e no exterior durante a década de 1970. Consta do livro "Poesia Jovem Anos 70", da coleção Literatura Comentada, escrito por Heloísa Buarque de Hollanda e publicado pela Editora Abril em 1982.

16 de fevereiro de 2007

Fortuna Crítica

ESTOU publicando poemas neste espaço para, de alguma maneira, me apresentar aos leitores.
Já saíram dois poemas inéditos.
Hoje estou voltando no tempo.
Em 1979, o professor Lauro Junkes – um dos maiores estudiosos da literatura catarinense em todos os tempos – publicou Presença da Poesia em Santa Catarina (Editora Lunardelli, Florianópolis), um alentado ensaio sobre esse gênero literário.
Eu, modestamente, já tinha alguma produção poética para justificar a inclusão de meu nome entre os poetas do Estado. Apareci nas páginas 254 e 256 da obra do professor Lauro, mais especificamente no capítulo Poetas Novos de Florianópolis. Primeiro, ele fez um resumo biobibliográfico, depois um parágrafo com uma apreciação crítica:
“O poema de Carlos Damião revela constante preocupação de engajamento, consciência e participação. Seu objeto fundamental é esse ser tão minimizado em nossa civilização, tão massacrado e tolhido em sua ânsia de liberdade e realização: o homem. Seu poema é consciente, é denúncia da mistificação e alienação, é arma de luta contra a violência e a violentação. Por isso, precisa manter-se muitas vezes em nível elíptico, cultivando o vigor sugestivo da alegoria e simbolização”.
Na página 256 aparecem três poemas daquela época:


Artigo Primeiro

Proclamo
a necessidade de que
retomemos
a palavra
HOMEM
em toda a sua plenitude
(não mais homem
arrastado
até o mar
para ver peixe nadar)


Liberdade

Estrangeira
pela tarde
do país
Estranha
estrela
perdida


Noite

Essa
escuridão
e nós todos
vigorosos
resistentes
tremendo de
frio
medo
(Tempo de resistir)

13 de fevereiro de 2007

RASTROS IMEMORIAIS

Feito o fato
e rasgada a seda do
coração
te envolvo
na tessitura febril
da viagem.

Escrevo pétalas de
vagares
por mundos tão
distantes
brisas delicadas

rastros imemoriais.

Ilha, 1993

9 de fevereiro de 2007

LAGOA-LUA

É difícil perceber
quando é tarde O oceano
sob o véu de outono
o avesso da nuvem
espalhando cores
Esta praia
exílio do agora
Sempre o sonho:
escalar a montanha branca
As dunas viajantes Formas
que o vento desenha
Quando é tarde
e a Lagoa é Lua
Teus olhos
Estrelas.

Ilha, 2002